6.º Fórum Liberdade e Pensamento Crítico: Abertura

Bom dia a todas e a todos

Abrir esta sexta edição do «Fórum Liberdade e Pensamento Crítico» em plenas comemorações do quinquagésimo aniversário do 25 de Abril é uma distinção e uma honra que muito agradeço. Começo por evocar e invocar os percursores e fundadores deste encontro anual de cidadania empenhada na luta contra o irracionalismo, contra o obscurantismo, logo contra o fascismo, logo contra o estado supremo do capitalismo: Amândio Silva, curvando-me perante a sua memória na pessoa de sua filha Moema Camilo Mortágua que continua a ser uma fonte de inspiração para a acção revolucionária Rafael Galego, militante revolucionário que recentemente nos deixou e aqueles que representam a geração da continuidade destacando o nosso excelso anfitrião João Jaime director desta modelar Escola de Camões.

O lema a que se subordina este encontro: «O Povo é quem mais ordena dentro de ti oh cidade», transporta-nos directamente para o «dia inicial inteiro e limpo» de Sophia através da canção do nosso maior trovador, o mestre único na arte da composição sem pauta! e do verso do povo para o povo, e podemos mesmo acrescentar lincolnianamente pelo povo; a voz que o universo criou para, como ninguém, cantar a vida, a luta e a utopia que nos continua a guiar. O cancioneiro do Zeca é um apelo ao pensamento livre, crítico e criador como orientador da acção e da luta popular. O Zeca legou-nos o seu cancioneiro que é um verdadeiro programa laico e anti programático – passe a aparente contradição – para a futura e necessária revolução libertadora das grilhetas alienantes do capitalismo, das suas chacinas e genocídios, da guerra infinita sustentáculo económico e político do imperialismo. Estamos, pois, neste contexto, obrigados a fazer aquilo que dois meses de preparação para um importante acto eleitoral e uma campanha acesa mas sem chispa – definir a maioria parlamentar que sustente um governo tecnicamente democrático – não conseguiram: Pôr em cima da mesa da crítica – do «pensamento crítico» – os dois pilares que têm sustentado o recuo para a barbárie onde já refocilamos com um certo sorriso patético e democrático: O supremo crime contra a liberdade de imprensa, ou seja, contra a democracia, que tem sido a cobarde e abjecta punição a que a Europa (Grã-Bretanha e antes Suécia), sempre obediente aos governos dos EUA, tem sujeitado o herói da luta pela democracia, a liberdade e a paz, que é o jornalista Julian Assange, cujo único crime foi publicar os crimes e atrocidades do império contra os povos, nomeadamente do Afeganistão e do Iraque. E o crime monstruoso que é a bárbara chacina israelita contra os palestinianos, agora concentrada em Gaza conformando nestes meses últimos a solução final nazi do genocídio iniciado em 1947sob a pressão da Grã-Bretanha e o beneplácito da ONU. Os sionistas perseguem destroem matam desprovêem de meios de sobrevivência os cidadãos palestinianos, tornando-lhes a vida num inferno na própria Cisjordânia onde os colonos perseguem, expulsam de suas casas e assassinam os cidadãos palestinianos. Israel, havendo outros, é o grande inimigo do estado palestiniano. Mas não só: é um inimigo da paz desde sempre, é um estado fora da lei possuindo a arma atómica, é um estado amiba que nem sequer tem as suas fronteiras definidas, é também um estado pária porque não cumpre nenhuma das resoluções da ONU, invocando um direito de defesa quando não passa de um agressor desvairado e sem escrúpulos. Mas neste momento Israel prepara-se para o euro-festival da canção e está a jogar futebol na UEFA!A nós, cidadãos e cidadãs livres, compete o combate aos cobardes que governam soletrando balbuciantes a paz e a democracia, masque são incapazes de enfrentar os assassinos e genocidas. Nem questionar a razão porque por uma questão democrática, não fornecem armas e carros de combate ao Hamas. O 25 de Abril nasceu da luta contra a guerra, pela paz e a liberdade: não podem reivindicar-se legitimamente do 25 de Abril, ao menos não deviam, os incapazes de impor não só sanções, mas o corte de todas as relações económicas, politicas e diplomáticas com o estado sionista genocida. Paralelamente, a guerra que destrói e martiriza a Ucrânia e que assola a Europa política e economicamente, está a ter um impacto brutal nas emissões de carbono, equivalentes a um ano de emissões belgas! A operação militar lançada pela Rússia, face ao avanço provocador da NATO é equivalente ao ataque preemptivona terminologia tornada moda pelo ataque terrorista dos EUA ao Iraque alegando uma ameaça que sabia não existir; está para durar enquanto os Estados Unidos não considerarem cumprido o objectivo anunciado por Biden um mês após o inicio da guerra: é para durar até enfraquecer a Rússia ou, melhor, como anunciou o estratega António Costa, até derrotar a Rússia, com toda a sociedade a seus pés. A guerra na Ucrânia tornou-se um assunto tabu desde que não de acordo com a Ursula von der Leyen, o Milhazes e o Rogeiro. Ou seja, como muito bem perguntou, no Expresso, António Filipe ex-deputado do PCP: «quem não salta é putinista?»Este nosso Fórum Liberdade e Pensamento Crítico sob o signo da força e vontade popular, o povo é quem mais ordena, propicia um questionamento crítico sobre que é isso de ser o povo quem mais ordena. De acordo com José Afonso numa das suas entrevistas a serem publicadas em breve num livro intitulado José Afonso Semeador de Palavras, a canção chave para o golpe do 25 de Abril, e que rasgou as avenidas que o povo percorreu naquele tão belo quanto breve PREC, foi uma canção de resistência que cumpriu a sua missão e que abriu o caminho para as outras, dele, Zeca, e dos outros grandes poetas e cantores que com ele celebraram a luta popular ajudando-a a orientar-se, desde a paz, o pão habitação saúde e educação, que força é essa, maria da fonte para matar os cabrais, EFE – EME – I, vim de longe vou pra longe onde nos vamos encontrar, Catarina Eufémia Bandeira Vermelha não fica no Chão, a cantiga é uma arma, senhores sou mulher de trabalho, os índios da meia praia, Teresa Torga Não há bandeira sem luta não há luta sem batalha…Para celebrarmos o 25 de Abril nos passos bem marcados e poderosos do Grândola Vila Morena e que foram a bússola para o PREC que, no fundo, é o que o povo sempre celebra mesmo se aparentemente conformados em pleno regime do golpismo novembrista, temos que ir às bases de todas as conquistas democráticas, sociais, culturais. Elas são bases materiais e não ideológicas como alguns tentaram e conseguiram para dar cabo do processo revolucionário tornando-o numa mitologia despegada da realidade nacional e internacional. São bases decorrentes da acção e do pensamento crítico e livre e logo da vontade e da força da luta: «contra quem, camarada? Contra a burguesia!!!»O recuo imposto no ensino, no desenvolvimento das ciências naturais e sociais e humanas, nomeadamente na história, a nível mundial, pelos que, para combaterem Marx, perceberam que tinham que combater Darwin, arroteou o terreno para o negacionismo e para o avanço do pensamento místico e mítico com origem na sede do império nomeadamente em muitas das suas grandes universidades como Yale cuja sociedade secreta estudantil Skull and Bones, serve com mística religiosa os interesses dominantes dos oligopólios e do próprio Complexo Industrial Militar para que o presidente Eisenhower nos alertou depois de o ter criado. Como afirmou Carl Sagan a mistura da ignorância com o poder é fatal para a humanidade. É nesse quarto escuro, apesar da alacridade estupidificante, que estamos a entrar. É por aí que ressuscitam os monstros míticos que alimentam os monstros políticos e lhes conferem força. Está claro que a finança é que manda e, como disse o preclaro Aníbal Cavaco Silva, a democracia é o mercado livre a funcionar, portanto a democracia serve para dar lucro ou não serve. E o liberalismo vai dar ao Miley: “liberdade carajo”; ao Bolsonaro: “és demasiado feia para te estuprar” e “tomem quinino em vez de vacina”; ao Ventura: “trabalho igual salário menor se for imigrante” e por aí fora. O grande inimigo do capitalismo, porque a grande força do proletariado, é o pensamento crítico. Para Marx a condição fundamental para a revolução, em aliança com a unidade na luta, é o apoderamento do conhecimento pelos trabalhadores. Por isso o grande ataque à Escola de todas as forças do capital: primeiro paulatinamente depois de forma mais descarada, ostensiva e violenta, servindo-se dos evangélicos dado que a Igreja, a tentar uma plataforma de coabitação com o conhecimento científico, elegeu o Papa Francisco que se revelou o único capaz de denunciar explicitamente a exploração capitalista e de indicar aos explorados o caminho da revolução, como ele fez, claro está em termos idealistas mas que contribuem para a luta na terra com esperança que lhes tem sido roubada pela capitulação dos portadores da grande utopia do comunismo. Esse conhecimento que enfurece os fascistas, para ser crítico e transformador, tem uma base: a ciência fundamentada na impiria. Não há princípios o que há é conclusões como disse Engels. Enfim, só na mãe das ciências, a matemática, é que temos axiomas, assentes no óbvio racional matemático. A base do pensamento crítico é o método científico mais ainda do que a própria ciência que no capitalismo – como foi no arremedo de socialismo – hoje pode ser usada pelo seu contrário, a ideologia da dominação capitalista. Novos e já prestigiados filósofos que não saíram das catacumbas do dogmatismo nem da respeitada fileira do pensamento marxiano, como Martin Hagglund, num Admirável Olhar Novo sobre o pensamento marxiano em «Esta Vida- Fé Secular e liberdade espiritual» defendendo um “socialismo democrático” radicalmente marxista em total oposição aos avatares burgueses do socialismo, e que do meu ponto de vista só pode ser ecossocialismo e Mark Fisher, infelizmente muito prematuramente desaparecido, em «Realismo Capitalista» visto por Slavoj Zizec «como o melhor diagnóstico possível da situação de apuro em que nos encontramos; e um apelo cru a um esforço perseverante no plano teórico e político».De facto, é por aqui que deveríamos começar antes de esbracejar ridiculamente com a subida da extrema direita nascida exactamente do renascer dos velhos mitos por falta de resposta do pensamento crítico escorraçado da Escola pelos nossos democratões de Novembro e espezinhado, por quem tinha obrigação de não o fazer, enquanto instrumento radical duma política de emancipação, ou seja revolucionária. Na modernidade, determinada e condicionada pelo capitalismo, a base científica para entender a sociedade, embora isso chateie muita gente ilustrada e progressista, encontra-se em O Capital e seus desenvolvimentos. A sua contestação usa recorrentemente ideologia, ignorância instituída como fuga da realidade, os mitos que permanecendo sema devida identificação e combate aí estão de novo como já estiveram, a pôr em causa as conquistas da civilização construída historicamente «aos ombros de gigantes», como referiu Stephen Hawking, que o foram sempre na luta contra a mitologia e o obscurantismo construindo tantas vezes heroicamente o pensamento científico que alicerça os próprios direitos humanos e é o fundamento da ética moderna. Tem sido contra o apoderamento do conhecimento pelas massas, que o novembrismo agora envergonhadamente emparelhado com o neo-fascismo, tem incidido a sua ofensiva destruidora quer das conquistas sociais quer culturais com incidência especial no ensino: sob a alegação do combate ao totalitarismo atacam-se as bases científicas do conhecimento substituindo-as pela mitologia religiosa ou pela mitologia da ideologia capitalista.

O 25 de Abril sendo determinado pela necessidade imperiosa de acabar com a guerra colonial, face à derrota anunciada frente aos movimentos de libertação, prolongou-se durante o PREC num ambiente nunca visto de luta, liberdade e alegria que pôs em causa a arbitrariedade do poder do capital, que arrebatou os trabalhadores e trabalhadoras para a afirmação dos seus direitos e assim impuseram a Constituição mais avançada do mundo, mas pouco apreciada nos tempos que correm.

De qualquer modo «FOIBONITA A FESTA PÁ», o 25 de Abril e o PREC serão sempre aúnica referência próxima da democracia popular. Sim! do povo.

Mário Tomé

6.º Fórum Liberdade e Pensamento Crítico

Entrada livre para o Fórum, almoço e concerto é necessário inscrição prévia.

Link para inscrição:

https://form.jotform.com/240445139277055 VI Fórum Liberdade e Pensamento Crítico

15 e 16 de Março – Escola Secundária Camões

O povo é quem mais ordena dentro de ti ó cidade!

Vimos convidá-los a participar no Fórum Liberdade e pensamento Crítico   que ira decorrer nos dias 15 e 16 de março no Liceu Camões , em Lisboa.

O programa do primeiro dia será da responsabilidade dos alunos da Escola e destina-se ao público interno e consta do seguinte: de manhã com dois debates, o primeiro sobre o DIREITO À HABITAÇÃO e o segundo sobre DECRESCIMENTO. À tarde haverá um espetáculo de teatro e convívio musical com Francisco Fanhais.

No dia 16 o Fórum será dedicado à comunidade em geral . A manhã do dia 16 será preenchida com debates em duas salas : IMPRENSA, REDES SOCIAIS, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL / ÉTICA E JUSTIÇA, seguidos de  ALMOÇO.

À tarde estão previstos mais dois debates, LIBERDADE E CIDADANIA HOJE / CONTESTAÇÃO SOCIAL HOJE, estando programada, em seguida, uma sessão cultural com POESIA VADIA .Encerramos com um  CONCERTO. 

Numa altura de grandes convulsões na Europa e no mundo que certamente afetam o nosso país, a participação de todos na defesa da democracia e da liberdade de pensamento é essencial.

Contamos com todos